quinta-feira, 11 de março de 2010

Relato

Eram cariocas. Eram jovens.
Ele era ambicioso. Ela era pragmática.
Em um acordo tácito, sem nenhum papel assinado, ela foi trabalhar para ele poder estudar.
Formou-se em direito. Ela continuou trabalhando.
Mudaram-se para São Paulo.
Ele virou sócio de uma empresa que começou a dar resultados.
Ela foi trabalhar com ele, organizar, administrar, orquestrar pessoas, processos.
Ele casou-se com uma moça rica.
Ela quase enlouqueceu.
Ele foi morar em uma casa enorme, com cães de guarda e teve dois filhos.
Ela foi morar em um apartamento confortável com dois cães e duas empregadas.
Iam trabalhar em carros separados em dias de muitas atividades.
Iam trabalhar no mesmo carro em dias de calmaria.
Do apartamento dela via o carro deixando a casa, pelo binóculo, e descia.
Ele tinha uma mercedes marron.
Ela um voyage de um verde indefinido.
Um verde envergonhado diante do verde dos olhos dela. Elegante, charmosa, inteligente. Uma vida entregue a outra vida, um espelho sem reflexo, um futuro sem perspectiva.
Envelheceram. Nada mudou.
Causa espanto, concordamos, discordamos, comentamos, relatamos.
Destinos escritos em papel manteiga com sabonete. Para ler a mensagem, experimente jogar canela em pó!

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