quinta-feira, 18 de março de 2010

Primeiras raivas

Parecia desinteressada. Tímida, mas era bem da sonsa, isso sim!
Ficava comigo na hora do intervalo, sempre de cabeça baixa, mas os olhinhos estavam bem atentos, eu é que não prestava atenção. Por que eu sempre falo demais?
O cabelo sem graça, aqueles cachos com preguiça de serem cachos, enrolados no dedo, escondendo aquela candura que agora sei: falsa!
Fazia comigo os trabalhos da escola, sempre comprometida, lia, escrevia, digitava e até punha florzinha, meu nome sempre no começo da lista.
Que besta eu! Achando que ela era minha amiga.
Na festa de aniversário da Rosana, me emprestando vestido, me pondo seu colar que eu achava a coisa mais linda do mundo. Como que ela podia emprestar para mim e ir com aquela roupinha sem graça e aquela correntinha de quando ela ainda era neném?
Delicada. Fala mansa. Boazinha essa sua coleguinha né filha? Não se cansava de comentar minha mãe.
Não é não mãe, enganou o bobo na casca do ovo.
Enganou até a vó Lola e olha que aquela espanhola diz que nunca se deixa enganar!
Primeiro foi ficando amiga das minhas amigas, e ficou tão amiga que não sobrou amiga para mim.
E agora, todo mundo na escola já veio me contar que ela estava com o Eduardo no cinema.
Eu não acreditei. Daí viram os dois na sorveteria.
Agora na festa da escola estão dizendo que eles vão junto.
O Eduardo nem me olha direito na escola. Não atende o telefone. Não fica online.
Eu já sei que poesia vou usar para fazer o trabalho de português, e vou fazer sozinha! Sabe o Livro das Ignorãças do Manoel de Barros? Então, vou usar o trecho que diz:
...
- coisa que não acaba no mundo é gente besta e pau seco.
...
Que raiva!

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