quarta-feira, 10 de março de 2010

Machado de Assis e as pequenas alegrias

Sento para fazer a unha, respiro e meus olhos e meu coração se enchem de alegria.
No balcão de apoio da minha manicure um volume de contos de Machado de Assis. Edição simples, papel barato, mas Machado de Assis.
Pergunto como quem não quer nada, com medo da resposta:
- Gosta de Machado de Assis?
- Do quê?
- Do livro, desse livro que está lendo, são contos, você gosta?
- Eu não entendo muito bem não... São historinhas, mas sabe, algumas não tem fim.
- Eu gosto muito desse autor, quando não tem fim podemos imaginar como a história continua, como termina. Quando lemos de novo podemos ter outra idéia.
Ela ri. Olha para mim e balança a cabeça como se eu fosse um caso perdido.
- Esse livro aí a minha filha ganhou na escola.
- Ah, eu sei, é um programa do governo, distribuem alguns clássicos da literatura para que as crianças montem uma pequena biblioteca. Sua filha gosta de ler?
- Ela gosta, ela tem paciência com livro, quando tem aula vaga ela vai na biblioteca e fica lá lendo.
Emociono-me com isso. E fico torcendo para que seja a mais pura verdade. Para que ela tenha paciência, para que ela tenha acesso, para que ela não se importe com as histórias sem fim.
Insisto:
- Você não está gostando muito, mas gosta de ler, do que mais gosta?
- Gosto de poesia e de dizeres.
Ficamos caladas por um tempo.
Ela se preocupa com a cor do esmalte que vamos usar e eu me preocupo em escolher um título para lhe presentear, talvez um livro de dizeres!

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