quarta-feira, 3 de março de 2010

Tinha nome a menina?

Dançou uma dança sem coreografia, em um bar sombrio, de gente mais perdida que achada.
Ganhou algum dinheiro, alguma gripe em tempo de noites frias de garoa fina.
Alimentou um sonho que não durava mais que uma semana, quando outro crescia e transformava tudo.
Imaginou um conto que contado não tinha graça, que escrito era tão curto, que pensado servia para acalmar a paz.
Fumou um cigarro de marca não decidida, mas copiada dos amigos, que não decidiam, pagavam pelo que era possível.
Usou um batom vermelho que em boca tão pequena era tão grande e desistiu porque deixava tão evidente que o lábio não era desenhado como supostamente deveria ser.
Amarrou de um jeito diferente o cadarço do all star e nunca esteve tão ausente de sua vida como naquele tempo.
Cantou uma canção aprendida na infância, resgatada sem ferimentos de um baú de brinquedos do coração.
Jantou um macarrão sem graça.
Andou de mãos dadas na chuva, correu, tropeçou, riu e quando entendeu a vida era tarde demais para muita coisa.
Reviu a coreografia, escolheu melhor o bar, a música, a companhia.
Autografou sua biografia, mas se retirou antes mesmo da foto e nunca mais se soube onde está escondida. Eu suspeito, mas devo guardar segredo.

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