segunda-feira, 15 de março de 2010

Pérolas aos porcos

Não mentiu, mas também não disse toda a verdade.
Um jeito de se proteger.
Analisava e separava as pessoas formando grupos conforme sua percepção.
Os que ali estavam por pura falta de opção. Na carteira faturas de cartão de crédito, o saldo do banco de um vermelho escandaloso, uma compra parcelada em três vezes, precisava daquele boné desesperadamente. Um carro na garagem sem gasolina. Um trem lotado, de solidão.
Outra turma encabeçada pelos que poderiam alçar voos estratosféricos, mas que preferem os voos de borboleta. Pequenos bandos, duas, três, quatro, não muito mais que isso. Cores alucinantes.
Voos baixos, quase rasantes. Uma conta para pagar, do que mesmo? Deixa pra lá, depois é só pegar outro boleto, uns trocos a mais de multa não podem estragar esse momento que agora é só da imaginação.
Um carro confortável, com ar condicionado, mal estacionado, incomodando muita gente.
E mais alguns. Alguns que querem voar alto, mas querendo olhar por baixo, esses, perigosos, que não se vêem no reflexo do espelho, porque tão luminosos por si mesmos que ofuscam qualquer imagem.
Qualquer carro, qualquer tempo, qualquer palavra que enalteça suas qualidades questionáveis.
Não mentiu. Mas não disse toda a verdade. Desencanto. Desalento. Descrença. Pérolas aos porcos, ora direis...

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