Gosto da rotina surpreendente.
Gosto da rotina diferente.
E me divirto construindo esse caminho.
Tomo café todas as manhãs. Mas não preciso comer as mesmas coisas.
Vou ao trabalho pela mesma rodovia todos os dias, e descubro coisas novas todos os dias.
Ontem um bando de cães me esperava passar no alto de um morro.
Como se fossem crianças adivinhando a cor dos carros.
Não me acenaram os rabos, mas eu contei uns cinco vira-latas.
Alguns deitados, outros em pé, outros em alerta. Um preto, um amarelo.
Vira-latas são lindos!
Também acompanho a procissão de caminhões que estão mudando um morro de lugar.
Na Rodovia dos Bandeirantes as margens mudam a paisagem.
Morros crescem pela mão dos homens e nunca lá parei para perguntar por que, mas devo.
Eles tiram terra de um morro, caminhões e mais caminhões, e a acomodam em outro ponto.
Depois do morro crescido plantam grama e quem não prestou atenção ou não passa com frequência pode jurar que aquele monte sempre esteve ali.
Hoje, um carro com três adultos tinha uma peteca atrás do banco traseiro.
Penas coloridas.
No meu caminho rotineiro, a lembrança de um dos meus brinquedos preferidos na infância.
Gosto da rotina da mesa de trabalho. Preciso dela para organizar meu dia.
E gosto de usar lápis. Mas não precisa ser sempre o mesmo e por isso tenho quase cem.
Vou usando enquanto a ponto está bem fina e depois vou trocando, trocando, até quase não sobrar.
E para que tenho um apontador elétrico se não para deixá-los todos prontos outra vez?
Gosto da desorganização da minha rotina.
Gosto de surpresas.
Gosto de ouvir música no rádio porque nunca sei o que vai tocar.
Gosto da rotina dos olhares. E da surpresa de descobrir neles um amor que vai continuar, um plano que vai dar certo, um futuro que vai chegar. Daqui a pouco, porque a rotina é feita assim, de pouquinho em pouquinho, pra de repente mudarmos tudo.