quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Rotina Variada

Gosto da rotina surpreendente.
Gosto da rotina diferente.
E me divirto construindo esse caminho.
Tomo café todas as manhãs. Mas não preciso comer as mesmas coisas.
Vou ao trabalho pela mesma rodovia todos os dias, e descubro coisas novas todos os dias.
Ontem um bando de cães me esperava passar no alto de um morro.
Como se fossem crianças adivinhando a cor dos carros.
Não me acenaram os rabos, mas eu contei uns cinco vira-latas.
Alguns deitados, outros em pé, outros em alerta. Um preto, um amarelo.
Vira-latas são lindos!
Também acompanho a procissão de caminhões que estão mudando um morro de lugar.
Na Rodovia dos Bandeirantes as margens mudam a paisagem.
Morros crescem pela mão dos homens e nunca lá parei para perguntar por que, mas devo.
Eles tiram terra de um morro, caminhões e mais caminhões, e a acomodam em outro ponto.
Depois do morro crescido plantam grama e quem não prestou atenção ou não passa com frequência pode jurar que aquele monte sempre esteve ali.
Hoje, um carro com três adultos tinha uma peteca atrás do banco traseiro.
Penas coloridas.
No meu caminho rotineiro, a lembrança de um dos meus brinquedos preferidos na infância.
Gosto da rotina da mesa de trabalho. Preciso dela para organizar meu dia.
E gosto de usar lápis. Mas não precisa ser sempre o mesmo e por isso tenho quase cem.
Vou usando enquanto a ponto está bem fina e depois vou trocando, trocando, até quase não sobrar.
E para que tenho um apontador elétrico se não para deixá-los todos prontos outra vez?
Gosto da desorganização da minha rotina.
Gosto de surpresas.
Gosto de ouvir música no rádio porque nunca sei o que vai tocar.
Gosto da rotina dos olhares. E da surpresa de descobrir neles um amor que vai continuar, um plano que vai dar certo, um futuro que vai chegar. Daqui a pouco, porque a rotina é feita assim, de pouquinho em pouquinho, pra de repente mudarmos tudo.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Mariana

A Mariana é uma mocinha.
Uma mocinha que conheço há pouco mais de dez anos.
Quase uma mulher.
Uma menina que nasceu daquela menina que brincava comigo de Vera no quintal.
Mariana é a minha sobrinha, a minha afilhada, a menina de olhos espertos que foi crescendo longe de mim, mas bem pertinho do meu coração.

Mariana é a menina para quem perguntávamos:
- Mariana, que carro o seu pai tem?

Só para nos divertirmos com o inusitado da resposta:
- meu pai tem um carro humilde!
Fosse qual fosse! A definição para os carros do pai era sempre essa: meu pai tem um carro humilde.

E o que você quer comer Mariana?
- uma comida simples
- uma comida simples?
- é, arroz, feijão e ovo
Respostas minimalistas.

Ah, mas Mariana não é mais assim!
Agora Mariana conhece todos os conjuntos (ai que palavra de velho!), conhece todas as bandas, os grupos musicais.
Sabe nome, tem fotos, sabe quando serão os shows.
A Mariana usa roupas coloridas, a Mariana vai crescendo mais depressa do que se podia supor!
E não dou conta de acompanhar.
E quando a revejo não cabe mais no meu colo e aperto as bochechas como tia “quase velha” que sou e ela não reclama.
Ri um riso largo.

A Mariana é uma menina encantadora.
A Mariana faz aniversário hoje e eu nem sei o que ela gostaria de ganhar de presente, mas acho que um bolo simples e uma lembrancinha humilde fazem a alegria dessa menina, que faz a alegria da gente!

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Menina de oito anos

E o que posso ver nesse olhar profundo senão oito anos de alegria?
Um bebê de cabelos cacheados e boca cor de rosa que encantava a todos e aconchegada em meus braços não queria nada mais que crescer.
E foi crescendo, para meu espanto e admiração, ultrapassando os limites dos meus braços, mas jamais dos meus abraços.
Dos murmúrios às primeiras palavras e dessas para as primeiras frases e agora, inconteste, quase uma conversa de adulto.
De livros e filmes, de quero isso e não quero aquilo.
E ser mãe desse encanto de oito anos é entender que tudo pode passar, mas não esse olhar.
Que esse amor em olhos que se reviram quando contrariada ultrapassa qualquer limite.
Ser mãe de uma menina de oito anos é ser convidada para tomar chá com todo o planejamento de uma cerimônia:
- Mãe, eu quero o joguinho de chá de porcelana para pintar! Eu ganho no meu aniversário dia 28, pinto no dia 29 e no dia 30 é o chá!
Estamos todos convidados, a família toda.
Ser mãe de uma menina de oito anos é xeretar o futuro com a delícia das respostas inusitadas para as perguntas mais prontas que se conhece!
- O que vai ser quando crescer?
- Espiã da “Flança”

E passado um tempo:
- Vou ser dona de zoológico
- Que bacana, pode estudar veterinária!
- Não, não precisa, vou ser só a dona, eu contrato o veterinário!

E vai crescendo mais depressa do que imaginamos.
Mais depressa do que gostaríamos.
E é singela essa menina. Sedutora em sua candura. Mais traquina do que demonstra.
Perspicaz, capaz de acalmar os arroubos de qualquer um e conquistar o seu espaço.
Que aprende devagar, mas a seu tempo, a rir de si mesma, mas que ri da vida e assim fica mais fácil.
Nossa caçula faz aniversário e sabe que, na nossa vida, é o grande presente!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Reunião de pais

Sábado de manhã.
Manhã mesmo, sete horas.
Banho, um café, um alô para aqueles que ficarão.
Um chamego na gata, um afago no cão.
E vamos, minha primogênita e eu, para a reunião na escola.
Oito horas da manhã.
- Ai que frio na barriga...
- Mas por quê? Não está tudo bem?
- Sei lá, eu devo ter deixado de fazer algum dever, assim né, eu fiz o dever, mas esqueci o caderno...
- Hum...
- Olha, como hoje é a festa da caçula, vamos falar pro papai só os pontos positivos, tá bom? Depois que passar tudo, aí falamos os pontos negativos.
- Não se preocupe, acho que tá tudo bem!
- É, eu fui mal em matemática, mas você vai ver, a classe inteira foi! Esse bimestre não deu certo o jeito que o professor fez as coisas...
Estacionamos. O frio na barriga continua. Ela esfrega as mãos. Chegamos à sala, 7h58, a professora ainda não está.
- Mãe nós chegamos no horário, ela não está, vamos embora!
- Calma, faltam 2 minutos!

A reunião é tranqüila. Elogios. É uma menina interessada, motivada, que sim, teve dificuldades em matemática, que fala demais em Geografia e que, ao ser repreendida, não aceita a reprimenda. E, como já havia antecipado, esqueceu o caderno umas duas vezes.
Nenhum delito grave, convenhamos.
Falamos no caminho sobre todos e cada um dos pontos.
- Mãe, não é que eu não aceito a reprimenda, eu argumento, a professora é que não aguenta a contra-argumentação!
Eu aguento e discutimos longamente o melhor caminho para ela, já trilhado por mim, na difícil arte de dominar palavras e posturas, mas como é sábado de festa e amigos, não vamos às tréplicas nesse momento, tudo foi anotado e constará nos autos.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O faraó e o marceneiro

Grande parcela das pessoas, em algum momento, acredita que foi alguém em outra vida.
E entre essa parcela, a maioria tem certeza de que foi rei, rainha, faraó, conde, duquesa, coisas assim.
Ninguém acredita que foi um pescador, uma aia, um cocheiro.
Há muitos anos um amigo estudioso dessas ciências fez uma análise de meu passado, baseado não sei em quê e me disse que eu era um marceneiro, que trabalhava muito bem com as mãos e que, apesar de analfabeto, adorava contar histórias.
Que minha distração era sentar-me na frente de casa, depois do trabalho, reunir um grupo de pessoas para contar histórias.
Muito apreciadas e de grande audiência.
Eu fiquei feliz de não ter sido rei ou rainha e encantada com a ilusão de ter sido um grande contador de histórias.

O mesmo se passa com o futuro.
Quando perguntamos a uma criança o que ela quer ser quando crescer, nossa expectativa é que diga médico, engenheiro, dentista, advogado e todas as terminações femininas, médica, engenheira, etc.
Para os mais conservadores.
Outros esperam modelo, cantor, apresentador de TV e há ainda os que torcem as mãos esperando pelo escritor, poeta, pensador! Esperam também por jornalista, arquiteto e agora todas aquelas coisas mais modernas de designer, web-designer, programador, e por aí vai.

Chocados ficam aqueles que, como eu, adorava perguntar para minha irmã caçula:
- Laís, o que vai ser quando crescer?
E ela respondia:
- Manicure...

E o caminho para uma vida feliz seria pensar, tudo bem, se for uma boa manicure, tiver boas clientes e puder ter uma vida de paz, com família e amigos, terá valido a pena.
E o atalho atávico nos levaria a pensar: Credo! Só se for em Paris... Ganhando em euros até ser a dona do salão!
Mas por que? Se puder ser feliz contando histórias por que não?

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Na capital

Nunca tinha ido á capital, mas naquele domingo, acordou cedo, coração acelerado de ansiedade.
Viagem, bagagem, ia visitar uma amiga da irmã, com a irmã, na capital.
Não falava de outra coisa já havia muito tempo.
Almoçou cedo sem fome, tomou água sem sede, conferiu mil vezes se tudo estava em seu lugar.
Nem se despediu direito de pai e mãe, interessada em olhar o ponteiro do relógio brilhando no pulso, indiferente, caminhando em seu tempo.
Rodoviária.
Ônibus cheio. Gente com cara de que sempre fazia aquilo, melhor demonstrar indiferença, viagem corriqueira.
A irmã, a melhor das companhias.
Viagem longa, revistinha, livro, cochilo, janela e paisagem rápida que dá tontura.
Paradas, banheiros, uma água, um salgadinho, um pacotinho de qualquer coisa para comer no caminho. Um bombom, um chiclete, a capital.
Rodoviária cheia de gente. Uma gente esquisita, diferente, com pressa, carregada, que parece saber pra onde vai.
Ela de olho na bagagem e na irmã. Cara de qualquer coisa, de espanto, de cansaço, de medo, de achar tudo feio.
Cidade cinza em pleno final de tarde de domingo. Prédios que formam corredores, táxi mal cheiroso, um caminho comprido até a casa da amiga.
Sorriso tímido, nem muita coisa pra falar. Um jantar diferente do jantar da casa da mãe, umas conversas que não sabia como participar. Dormir.
Escovou os dentes. Apertou no peito o pijama cheiroso que a mãe pusera na mala.
Para ela, um colchão de solteiro na sala.
Dia seguinte, levantar cedo, 2feira, dia estranho para estar na casa dos outros, no banho um susto! O corpo inteiro cheio de pintinhas vermelhas que coçavam como quem pretende enlouquecer. O quê? Um pronto-socorro, um médico, umas perguntas de nada, ah, o salgadinho deve ter feito mal.
Pois sim, muitos anos depois descobriu que foi um verdadeiro banquete para as pulgas que habitavam o tapete daquela sala de casa que tem cachorro e que de sangue assim tão bom nunca se serviu!
Pois era isso a capital? Não trocava mais nunca pelo seu quintal!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Em tempo


Queria encontrar um jeito de dizer, mas não achava.
Queria encontrar as chaves do carro, mas nunca estava onde tinha sido deixada.
A janela que não fechava direito.
A porta sempre rangendo.
O armário com as roupas que se amontoavam e trocavam de lugar.
O cavalo que não para em pé e não enfeita, incomoda.
A água que pinga.
A consciência que grita.
Queria encontrar um jeito de dizer, mas dizer o quê?
Que estava no lugar certo, mas na hora errada?
Que ficou tempo demais no mesmo lugar?
Que estava lá, mas queria estar aqui e que agora que está aqui, tem saudades de lá?
Queria contestar, mas que esforço seria esse?
Era preciso nada mais do que escovar os dentes, ajeitar o cabelo.
Ouvir uma música, depois ouvir o silêncio.
Escrever um problema em um papelzinho e depois amassar.
Dar um telefonema.
Pensar na solução.
Queria encontrar um jeito de partir sem dizer adeus.
Uma sensação leve e não atordoada, um dia quente de primavera, não aquele vento gelado de noites inacabadas.
Queria encontrar um jeito de entender que quando não se encontra não significava que se está perdido para sempre.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sem calma

Todo o corpo superfície, pela boca entrada da caverna.
Escondido num canto um coração sem alma.
Um fígado funcionando.
Um rim abusando e um estômago satisfeito com balas 7 belo.
Um mundo maior do que é.
Um momento menor do que deveria ser.
Um tempo de ser e apenas ser sem ter que ter mais do que é preciso.
É preciso um bicho no pé.
Um cachorro latindo no portão.
Uma criança com joelho esfolado na bicicleta.
Outra criança com um cartão de feliz dia dos pais.
Um céu que não cansa de ser azul.
Um mar que não chega ao interior.
Uma festa que não se quer ir.
Uma vela para acender.
Um santo para ajudar.
Uma poesia para proteger a dor que não quer caber.
Um pé de tênis, um pé de salto, um pé descalço.
Um pé que pedala só pro vento esfriar a face.
Vermelha de sol, vermelha de ansiedade,
Vermelha de ver florescer as pitangas no vaso.
Todo o corpo superfície, pela boca entrada da caverna.
Escondido num canto um coração sem alma.
Sem calma porque reaprendendo a falar.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O dia em que achamos um bebê

Na verdade não era um dia, era uma noite.
Ensaiávamos um espetáculo de teatro no Ruth Escobar, sempre muito tarde da noite, depois da apresentação programada e estávamos no bar ao lado.
Era mais um canto que um bar, mas era possível comer um misto quente, tomar uma coca-cola e falar bobagens.
Naquela noite ouvi um barulhinho e pedi silêncio. Escutem, parece um bebê. Ah, não é, deve ser algum filhote de cachorro, gato, sei lá.
Nossa, mas parece um bebê. É, eu também acho. Vamos ver?
Deve estar na escadaria.
Credo, a escadaria é um rio de xixi.
Mas e daí? E se for um bebê?

E fomos, alguns. Outros ficaram curiosos. Outros apenas ficaram mastigando seus sanduíches e incredulidades.
E era mesmo um bebê.
Um bebê embrulhado em uma manta branca, deixado em um dos degraus daquela escadaria suja.
A noite era quente, mas qualquer que fosse o tempo nada poderia ser mais frio do que aquilo.
Quis logo pegar e acomodá-lo, mas nada o fazia parar de chorar.
Não voltamos ao bar.
Quis o destino e o mapa que quase em frente ao número 209 da Rua dos Ingleses, o teatro, ficasse o número 258, hoje Hospital Municipal Infantil Menino Jesus, que naquela época já era um hospital, mas não sei se infantil ou se com esse nome.
Procuramos na recepção alguém que nos pudesse ajudar e a primeira providência, antes mesmo de recolher o bebê para examinar, acalmar, proteger, avisou a polícia.
Naquela noite o ensaio começou bem mais tarde.
Esperamos a polícia. Contamos toda a história. Despedimos-nos do bebê e com os policiais atravessamos de volta a rua. Refizemos o caminho. Ouviram o dono do bar e outras testemunhas que confirmaram toda a história, assinamos alguns papéis, deixamos nossos nomes, endereços e telefones para futuros esclarecimentos.
Disseram-nos que o bebê seria entregue ao juizado de menor.
Era um menino.
Ninguém podia ficar com ele. Não tínhamos mais de vinte anos e nem cogitamos essa possibilidade.
Nunca fomos procurados para mais esclarecimentos. Nunca procuramos ninguém para saber do menino.
Que destino terá tido o bebê da escadaria do Bixiga?
Gostava de saber.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Velhice








o último minuto pode ser o primeiro
de outra vida, de outro tempo,
olhava a roseira crescer observando a
gota de orvalho
que podia ser do choro de um anjo
que podia ter deixado de ser anjo
anjos deixam de ter asas quando se
apaixonam
as rosas são as primeiras a saber
as margaridas, baixa-estima em alta
ironizam
o girassol vira para o outro lado e
nem quer saber
por isso as rosas têm espinhos
avisos doloridos de que amar machuca
mas os anjos não sabem
não há anjo que retorne de sua dor
para contar
sentava na varanda em sua cadeira verde
e balançava um tempo sem vaidade
o muro baixo
a gente passando apressada do trabalho
o carteiro que trazia sempre apenas
um aceno ou uma conta
nunca uma carta, que já cartas
não se escrevem mais
o último minuto pode ser o primeiro
e por isso esperava ela já sem
esperança de nada
mas quando se levantou para entrar
empurrada por um ventinho frio
olhou para o céu e a lua crescente piscou
pediu em silêncio para o último minuto
deixar pra depois porque coisa
tão linda merece ser vista muitas
e muitas vezes
se benzeu e foi jantar
que a novela já ia começar

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Quem era ele?

Ouço no rádio a notícia de um acidente com morte na marginal, cidade jardim. Quem ouve e não conhece, será que pensa em um lugar bonito, com flores? Um jardim?
Nada que chegue perto.
O intuito da notícia não é outro senão o trânsito e suas complicações diárias.
O moço de 20 anos, em alta velocidade, capotou o carro de madrugada.
Os moços têm pressa...
E o que tinha além da pressa?
Sono?
Um pai e uma mãe despreocupados com a rotina do menino na faculdade?
Um pai e uma mãe na mesma casa ou duas casas? Uma com pai e madrasta a outra com mãe e padrasto facilitando as fugas de uma para outra nas brigas nossas de todo pai e mãe?
O que tinha além da pressa?
Uma namorada bonita? Ou uma garota que suspirava escondida esperando a balada certa?
Um ipod, um ipad, um iphone. Um ai sem fim agora para quem ficou.
O que tinha além da pressa senão sua confiança extrema, sua quase arrogância de acreditar que moços não morrem?
Quem era ele?
Quem tem sua senha do facebook para dizer adeus, até já.
De quem se despediu? De que matéria fez as últimas anotações? Para quem olhou pela última vez?
Por que o pé obedeceu a um coração inquieto e o fez correr da vida, capotando a vida das pessoas e caindo nesse universo imenso que não sabemos onde é?
A notícia do rádio é já tão velha.
As fotos, o policial dando declarações, o nome o sobrenome já sabidos de toda gente.
Um velocímetro marcando 160 km.
Os moços têm pressa porque são moços e nem todos têm tempo de aprender, que pena.


quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O que são 20 anos?

E o que tenho a dizer depois de vinte anos senão que estou preparada para mais vinte e que escolheria de novo o meu José?
Que me lembro da chuva forte que nos deixou ensopados em um Ibirapuera ainda puro, com uma câmara fotográfica na mão fazendo um trabalho de faculdade.
Que me lembro dos passeios de bicicleta.
De tantos filmes que assistíamos caminhando pela paulista.
Do suco na casa de sucos.
Das viagens de ônibus para o interior de São Paulo, roteiro mãe-sogra, sogra-mãe.
Da rotina de levantar cedo aos sábados para andar a cavalo na hípica de Mairiporã e depois almoço no O Velhão.
De comprar tantos CDs no Eldorado da Pamplona que agora é Carrefour que nem dávamos conta de ouvir tantas músicas.
E de termos feito uma assinatura na locadora de vídeos quando o DVD surgiu em nossa vida.
E o que tenho a dizer depois de tantos anos?
Do quanto ficamos com cara de e agora? Quando a primeira gravidez surgiu e era ano de ir à Itália depois de Espanha e Portugal.
E lembro-me de ter me casado com você muitas vezes.
E do que mais me lembro são dos dias absolutamente úteis em que ganhei café na cama, uma música, um telefonema de como você está?
E como escrever um livro ou um filme se uma grande história é feita apenas de pequenas coisas?
E a alegria que foi depois da nossa família ter três pessoas recebermos a quarta criatura que completaria tudo?
E Juca & Jaqueline nossos primeiros gatos.
E Haku nosso primeiro cachorro.
E tantas casas que moramos. E tantos objetos que eu quis comprar e você quis construir.
E a mansão de bonecas que construiu com as meninas? Dois andares, janelas com sol e estrelas, cores, piso especial.
E os pães e os jantares com os amigos.
E os silêncios e as caras amarradas inevitáveis.
E a sua mania de anotar números de telefones em pedaços quase invisíveis de papel.
E o seu tempo tranqüilo de sair enquanto fico esperando na porta com a bolsa a tiracolo fazendo caras e bocas.
Um dia de cada vez. As meninas nos revelando, crescendo, pontuando uma existência útil.
Quem há de querer saber disso tudo senão nós dois e nossos netos quando a nossa infância voltar?

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Jogar STOP, quem quer?

E agora que tudo está confuso, que tenho tantas coisas para resolver, para decidir, agenda sobreposta, sol em dias finais de inverno, um aniversário para organizar, um nariz para proteger desse ar tão seco, eu não quero nada além de cinco minutos comigo mesma para me sentar na calçada da minha casa, lá em Tupã ou em Presidente Prudente, com um pedaço qualquer de papel na mão, um lápis ou uma caneta, alguns amigos e parar o mundo para jogar STOP.


Fechamos as mãos e abrimos todos juntos, contamos quantos dedos tem e o número que der é a letra do alfabeto!
Ou podemos escrever todas as letras do alfabeto em pedacinhos de papel e ir sorteando.
E, por fim, não importa de que maneira sortearemos a letra.

E a letra é R!
Nome de homem: Renan
Nome de mulher: Rita
Uma fruta: romã
Uma flor: rosa
Um animal: rinoceronte
Um país: República Dominicana
Uma cor: roxa
Uma cidade: Rinópolis
Um objeto: ratoeira

A letra é D!!
Nome de homem: Dario
Nome de mulher: Dalva
Uma fruta: damasco
Uma flor: dália
Um animal: dromedário
Um país: Dinamarca
Uma cor: dourado
Uma cidade: Dracena
Um objeto: dedal

E a letra é M!
Nome de homem: Miguel
Nome de mulher: Marlene
Uma fruta: melancia
Uma flor: miosótis
Um animal: mangusto
Um país: Moçambique
Uma cor: magenta
Uma cidade: Montreal
Um objeto: martelo

E tudo vai voltando ao normal.
Agora sim, já posso voltar e fazer tudo o que devo fazer.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Promessa

Não acreditava nos santos, mas estava tão precisada.
Quando era pequena a mãe a obrigava a ajoelhar e rezar.
Ela fazia isso, mexia os lábios, fechava os olhos e era salva por esse ritual porque a mãe nunca tomou as orações como tomava a tabuada.
O menino Jesus ela sabia que tinha nascido na manjedoura, fugido nos braços da mãe não sabia bem de quem e depois de moço apareceu fazendo milagre.
Ela via todas as imagens na igreja quando ia à missa com a mãe, mas era tudo tão desinteressante.
Umas orações compridas, uma sequência sempre igual de senta, levanta, ergue as mãos pro céu e depois, em fila, comungavam.
Ela tinha feito a primeira comunhão, mas não podia mais receber a hóstia porque já não se confessava há tanto tempo.
A mãe era rígida, mas com tanta preocupação, mais valia que a menina fosse bem na escola pra ter uma boa profissão ou casar com um homem de bem e seguir seu destino.
Não acreditava muito em nada não porque a mãe tão rezadeira, a avó então, nem se fala, e o que tinha dado certo na vida?
Aquela rotina de trabalho todos os dias, aquela casa pobre, aquela comida que não faltava, mas também não fartava, uma novela no fim da noite?
Que santo ajuda a mudar isso? Tem santo pra tudo, na certo a mãe sabia, nunca pediu nada não?
Pra não incomodar o santo, porque aceitava a dureza da vida ou porque não queria se decepcionar?
Ela tava tão precisada que tinha que arriscar. Tinha que fazer uma promessa.
Primeiro precisava descobrir um santo que pudesse ajudar. Santo Antonio era casamenteiro, São Francisco protetor dos animais, São Jorge lutava com um dragão, mas cá embaixo não sabia contra o que lutava não.
Perguntar pra mãe assim como quem não quer nada que na Bíblia devia ser bem difícil de achar.
Devia era ter um guia de santo, aí procurava pelo problema, achava o dito cujo e fazia a promessa.
Outra coisa difícil porque promessa sem sacrifício não serve pra nada.
A Marlene tinha contado que uma vez fez uma promessa e já começou a cumprir antes da graça alcançada e aí não deu certo. O certo mesmo é pedir, quando a encomenda chegar, começa o pagamento. Ai meu deus, tava tão precisada.
Se fosse falar com o padre talvez desse mais certo porque ele podia explicar tudo direitinho e até indicava o santo. Mas e a vergonha? O medo do sermão que ia ter que ouvir antes do padre? Compensava não.
E se a promessa fosse confessar, falar com o padre, explicar tudo e ir à missa todo domingo, já começando agora?
Podia escolher um santo preocupado com alimentos, aí escolhia a fruta que mais gostava, a carne que mais gostava e o doce que mais gostava e prometia não comer nenhum durante um ano. Cosme e Damião gostavam de doces, mas eram santos? Santo em dupla?
Melhor mesmo era perguntar pra vó, além de explicar ela ia esquecer antes mesmo de contar pra mãe.
É isso. Falar com avó e arriscar.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Ah... os sotaques!


Recebo um email de uma amiga espanhola, que vive em Madrid, com a novidade: quando for outra vez ao Brasil, só falarei em português, porque ahora tengo clases con una chica brasileña que es de Bahia. ¿Que es Bahia?

Eu a recebo em inglês porque vem de New York e nunca a vi antes. Abre-me um largo sorriso e diz, sou chilena, mas falarei em português! Como faço muitos negócios por aqui, aprendi há tempos atrás com um professor gaúcho! Apaixonado por Gisele Bündchen e, portanto, todo o universo do meu aprendizado girou em torno de cabelos loiros, mulheres altas e magras e cai na risada apontando para si mesma!

Começamos a conversar e ela nos diz que, como professora de inglês pode falar em inglês e, como colombiana, pode falar espanhol, só não pode falar em português porque ainda não aprendeu. Pouco tempo depois nos conta que trabalha em sua casa uma moça que veio do Rio e que parece muito diferente dos brasileiros, porque é muito reservada, quase não ri e quase não fala. Depois considera que talvez pela posição que ocupa não consegue ser muito efusiva e completa: não fala, mas quando fala, fala de um jeito estranho...

Recebemos, felizes, felizes, a notícia de que no dia seguinte conheceríamos nosso diretor musical. Ensaiávamos um espetáculo no Teatro Taib, na Três Rios. No dia seguinte, fui a primeira a chegar e lá estava ele.
Negro, jovem, óculos quadrado, grande até para as suas feições, sorridente e apresentei-me.
Tive certeza de que ele era americano e ia parabenizá-lo pelo seu português quando ele me diz:
- Não pude deixar de notar, pelo seu sotaque, que também é do interior. De onde você é?
E pensei: também sou? Mas respondi minha longa trajetória... Nasci em Osvaldo Cruz, morei em Tupã, depois em Presidente Prudente... E você? Perguntei, morta de curiosidade.
- De Porto Feliz...
Minha nossa, logo eu, caipira da gema, fui enganada por um cara ainda mais caipira do que eu!?!
Só pude lhe contar isso algum tempo depois, quando já era piada e não constrangimento.
Ah, esses sotaques me encantam!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Hoje não é mais ontem

Hoje não é mais ontem e ainda não é amanhã.
Mas tem pressa, quer saber já o que acontecerá daqui a pouco.
Quer ver a foto.
Quer pensar na recordação da viagem que nem terminou.
Não tem paciência para esperar o tempo passar.
E, por isso, não consegue aproveitar o momento.
O tempo todo agitando as mãos, se não as mãos os pés, se não os pés os pensamentos.
Uma necessidade de sentar-se e apenas recordar o que teria vivido se...
se quando criança tivesse quebrado o braço direito andando de bicicleta
se tivesse fugido de casa e passado a noite no jardim do melhor amigo
se tivesse roubado um beijo da menina mais bonita da escola
se tivesse experimentado maconha
se tivesse ido acampar
se tivesse tentado jogar futebol, basquete, vôlei
se tivesse acordado mais cedo para treinar natação
se tivesse aprendido francês além do inglês
se tivesse lido os livros e não os resumos para as provas de português
se tivesse se mudado para Florianópolis
se tivesse colecionado caixinhas de cigarro
se tivesse feito campanha contra a Coca-Cola
se tivesse entrado na faculdade depois de já saber o que queria fazer
se tivesse namorado sério
se tivesse sido convidado para ser padrinho de algum bebê
se tivesse pedido desculpas ao pai
se tivesse largado o trabalho pra lá e ido a velório da avó
se tivesse trocado tudo por um amor que foi morar em Londres
Mas hoje ainda não é amanhã e antes que atravesse a rua e seja pego por um carro em alta velocidade ergue a mão e diz:
- Hei amigo... com esse calor, essa sexta pela metade, suspende meu café e me traz uma cerveja.
Vou trocar os ses pelos dos... completa... para um garçom completamente desinteressado de suas reflexões.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

La piccola mia lampa

Salvava bichinhos desavisados que caiam na pia, na água do banho, que não encontravam o vão da janela, que ficavam atordoados pela luz.
Quando a gata entrou correndo na sala, caçando, logo foi contida para que o bichinho pudesse ser salvo.
Qual não foi a surpresa ao encontrar, debaixo da estante, um vaga-lume assustado.
Um vaga-lume?
Eles faziam parte das noites de sua infância. E tantos, e tão bonitos, que não se lembrava de nada mais, se as noites eram de inverno, outono, primavera ou verão.
Esse era um vaga-lume diferente daqueles. Mais compridinho, mais magrinho, mais leve, com um verde lusco-fusco mais mágico do que aqueles outros. E era apenas um. Aliás, para vaga-lume não há coletivo porque não se deslocam em grandes grupos.
Se for mandatório deve-se usar enxame que significa grande grupo e que é usado para abelhas. Abelhas não brilham.
Pois depois de algumas tentativas o vaga-lume foi posto para fora da casa, pelo vão da janela, porque não voava alto e a gata, arisca, lhe daria o bote fatal.
A noite seguiu seu curso, pernas em cima do sofá, um programa qualquer na televisão, um vento frio lá fora, as crianças dormindo (que pena!).
Banho para fechar a noite.
Tão logo a água quente levou embora o cansaço, um brilho desenhou um traço no ar e os olhos percorreram a trajetória para encontrar um vaga-lume já afogado na água ainda quente do chão.
Se não havia um enxame de vaga-lumes, esse que escorregou lentamente para o ralo era o mesmo vaga-lume da sala.
Posto fora pela janela ficou voando solitário no corredor e voou para a luz do banheiro entrando pela janela aberta.
Quem controla o destino dessas criaturas?
Um aperto no coração.
Ler uma página do livro sempre transforma a realidade e traz um sono mais tranquilo, a não ser quando a página que o marcador nos abre diz:
... de sombra fictícia que está além do pequeno território desta pouca luz que nós, pobres vaga-lumes sem rumo, projetamos em torno de nós e no qual nossa vida fica como que aprisionada, como excluída por algum tempo da vida universal, eterna, para a qual nos parece necessário retornar algum dia...

La piccola mia lampa
Non, come sol, risplende

PS do livro O falecido Mattia Pascal, Luigi Pirandello, págs. 189-191

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Pipas

As pequenas delícias fazem a felicidade maior.
Mas porque são pequenas não prestamos atenção.
Quando não as temos mais, nos sentimos desamparados.
Amoras no pé.
Amoras no chão.
E o que é uma fileira de amoras no jardim da frente da casa?
Um teatro, são formigas vindas da Malásia para uma grande apresentação!
Formigas que sofreram mutação.
Formigas que vão tingir nosso mundo sem graça com sua cor penetrante.
De tal sorte que quando mancha a camiseta nova, a mãe fica brava, muito brava. Já farta de tanta explicação.
E o que é um lençol secando no varal senão uma grande cortina atrás da qual se pode ficar escondida do joelho para cima.
Carinhas desenhadas nos joelhos direito e esquerdo podem ser personagens que contam uma história para uma platéia de irmãs caçulas.
E o que são dois tijolos se não a marca de um gol?
E o que é uma pastilha amarela de revestimento senão uma pedrinha de amarelinha guardada a sete chaves como se fosse uma relíquia, porque na hora do jogo, ah, não é necessário procurar um caquinho qualquer!
E o que são as mangas ainda verdes transformadas em mercadoria no armazém montado em cima de baldes e bacias?
E um talo de folha de mamona? O que é senão um canudo por onde se faz imprevisíveis bolhas de sabão com a água que a mãe prepara para deixar a roupa de molho?
São momentos em que não pensamos no que o futuro nos reserva, no que seremos, no que nos tornaremos.
Apenas somos, e quando apenas somos, todo o universo dá graças e a existência fica bem mais leve.
Será que ainda sei empinar pipa? Não custa tentar.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Cibele

Tinha um nome diferente a menina, nem Luciana, nem Adriana, nem Mariana, um nome simples, mas diferente, desses que muitos acham bonito e muitos acham feio.

E era bonita a menina. A adolescente entre as meninas que almejavam ser e por isso olhava de lado, passava sem sorrir, não brincava mais, ah não, isso não.
Era morena.
Tinha os cabelos negros à meia altura. Começam lisos e depois ficavam cacheados, uma cascata.
Era dengosa.
Os meninos faziam rodinha para olhar, comentar, rir, desejar.
Mesmo de bermuda e camiseta parecia uma princesa.
E aquele olhar escuro, de quase soberba, de saber-se com três anos a mais que as meninas que ainda andavam descalças, apertando as saias entre as pernas para andar nas bicicletas maiores que elas.
Era boa aluna a morena.
Já estudava em uma escola para maiores.
E tinha amigos diferentes da turma da rua, que lhe visitam com os livros embaixo do braço, já faziam trabalhos que levavam a tarde inteira.
Tinha irmãos e irmãs a menina bonita.
Maiores e menores.
Tinha pai, mãe, uma vida organizada, uma casa boa, nem melhor nem pior do que as outras casas da rua.
E cachorros pelo quintal.
Um dia comentou-se na rua que a menina bonita ia mal na escola.
O pai brigou, achou que era coisa de namoradinho.
A mãe não entendeu.
A professora chamou e disse que a menina dormia durante a aula.
O irmão vigiou, será que saia a noite ou não dormia escrevendo poesias, bilhetes de amor?
Ninguém suspeitou que talvez a menina estivesse doente.
A professora má lhe jogou na cabeça o apagador quando ela pousou a cabeça nos braços cruzados sobre a carteira e dormiu.
Foi demais.
O pai foi falar com o diretor.
A mãe foi falar com doutor.
Pouco tempo depois a menina morena, bonita, morreu.
Tinha uma leucemia em estado tão avançado que nem padeceu.
Naquele tempo era doença que nem se nomeava, que não tinha cura e as crianças todas da rua ficaram com medo por muito tempo.
A rua ficou sem graça e todo mundo foi crescendo sem muito alarde.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

7 de setembro - Dia de...

sic sic sic
- O próximo feriado é dia de quê?

- Dia de ficar em casa...
- Sei, mas se comemora o quê? Um santo?
- Imagina, é um dia da pátria, sete de setembro
- É? Que pátria?
- Dia do Brasil, da Independência, quando se livramos do reino de Portugal, não aprendeu isso na escola não?
- Não lembro, eu decorava as datas e as coisas, mas não ligo os números aos fatos
- Sei
- Pra mim é só dia de ficar em casa
- Pra mim é dia de ficar fora de casa, isso sim
- Vamu pra praia?
- Será que não vai chover?
- Não, essa época já não chove mais
- Mas sem as meninas...
- É, só nóis
- E onde que a gente vai ficar?
- Tem um camarada meu que tem um apartamento lá em Bertioga
- Nunca fui
- Né longe não, ele sempre oferece, vô ligá
- Mas o quê que a gente vai dizer pras meninas?
- Ué, que a gente vai reformar o apto dele, de empreitada, que ele vai ajudar pra não ficar muito caro e que vamos aproveitar o feriado
- E se a gente volta bronzeado?
- Isso é na volta, na volta a gente pensa, agora tem que pensar na ida
- Você tem dinheiro?
- Pouco, mas é só pra passagem e um di comê
- Também arranjo um pouco, quando você vai falar com ele?
- Agorinha, vou ligar no celular dele, me empresta aí o telefone
- E o seu?
- Tá sem crédito
- Ma rapaiz assim já começou mal
- B´ora lá... é dia da independência!